domingo, 24 de abril de 2011

Otelo Saraiva de Carvalho

      Para o “capitão de Abril” Otelo Saraiva de Carvalho bastam 800 militares para derrubar um governo, mas, acredita que «um novo 25 de Abril» só deverá acontecer com a perda de direitos dos militares.

      Em entrevista, a propósito do livro recém-lançado “O dia inicial”, que conta a revolução do 25 de Abril «hora a hora», Otelo reconhece que, ao contrário da sociedade em geral, os militares não têm demonstrado grande indignação pelo estado do país.
      Justifica: «Os militares pertencem à classe burguesa, estão bem, estão bem instalados, têm o seu vencimento, vão para fora e ganham ajudas de custo, são voluntários e os que estão reformados ainda não viram a sua reforma diminuída». Mas, na perspetiva deste obreiro da “revolução dos cravos”, «a coisa começará a apertar, no dia em que os militares perderem os seus direitos» e «se isso acontecer, é possível que se criem as tais condições necessárias para que haja um novo 25 de Abril».
      Otelo Saraiva de Carvalho lembrou que o movimento dos capitães iniciou-se precisamente por «razões corporativistas», nomeadamente quando «os militares de carreira viram-se de repente ultrapassados nas suas promoções por antigos milicianos que, através de um decreto-lei de um governo desesperado por não ter mais capitães para mandar para a guerra colonial, permite a entrada desses antigos milicianos».
      Otelo lembra que, «quando tocam nos interesses da oficialidade, ela começa a reagir. Há 37 anos, essa reacção foi o movimento de capitães», que culminou no derrube de um regime com 48 anos.


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