segunda-feira, 30 de julho de 2012

O Alfaiate, o Cozinheiro e o Ferreiro

       Por esta altura (a 29 de julho) do ano de 1900, em Monza (Itália), o monarca italiano Umberto I é assassinado pelo alfaiate Gaetano Bresci com três tiros.
      Este ato foi um ato de justiça e de vingança contra o massacre de trabalhadores numa manifestação em Milão, dois anos antes, na qual centenas de trabalhadores famintos foram mortos.
      Pouco tempo antes numa atitude absurda o insolente rei Umberto havia condecorado o General Bava Beccaris, o responsável pela matança de Milão.
      Gaetano Bresci (1869-1901) era alfaiate de profissão e também jornalista e militante anarquista. Nascido em Itália e emigrado para os EUA, logo que lhe foi devolvido o dinheiro que emprestara para a constituição de um jornal, viajou para Itália com o propósito de matar o rei.
      Logo após os três tiros no peito, no meio da multidão, gritou: “Não matei Umberto, matei o Rei, matei um princípio”.
      Nota que este rei italiano, que a história oficial lhe atribuiu o cognome de “O Rei Bom”, já há alguns anos antes, cerca de 20, que se tentava eliminar. O primeiro ataque foi em 17 de novembro de 1878, aquando de um desfile em Nápoles, num carro aberto, foi atacado pelo anarquista Giovanni Passannante, cozinheiro de profissão. O rei repeliu o golpe com o seu sabre. O pretenso assassino foi condenado à morte, embora a lei só permitisse tal condenação em caso de morte do rei, então Umberto comutou a sentença em trabalhos forçados perpétuos, que Passannante cumpriu numa cela de apenas 1,4 metros de altura, sem saneamento e com 18 quilos de correntes no seu corpo. O anarquista viria a morrer numa instituição psiquiátrica uma década depois.
      Passannante tentara realizar o seu ato com uma pequena faca de aproximadamente oito centímetros, "boa apenas para fatiar maçãs" como disse em interrogatório o dono da loja onde o anarquista havia conseguido a faca em troca de um velho casaco.
      O segundo ataque, partiria de um outro anarquista, em 22 de abril de 1897: Pietro Acciarito, ferreiro de profissão que tenta apunhalar o rei. A sua ação não logra êxito e Acciarito recebe tratamento análogo ao despendido a Passannante acabando louco após cumprir parte de sua pena de prisão perpétua numa cela sepultura, menor que a sua estatura, abaixo do nível do mar, sem latrina e sem luz.
      Já agora convém registar que após a morte do primeiro anarquista, Passannante, lhe foi decepada a cabeça e o seu crânio e cérebro foram enviados para análises no Instituto Superior de Polícia, em Roma, com o objetivo de ser estudado na cadeira de Antropologia Criminal que sustentava que se poderiam identificar tendências subversivas ou criminais nas características físicas e biológicas dos indivíduos.
      De igual forma, os restos mortais de Pietro Acciarito foram submetidos a uma autópsia pelos mesmos eugenistas da escola lombrosiana que haviam examinado o corpo de Passannante, tendo concluído, através dos seus estudos, que a forma oval do crânio do ferreiro revelava uma "predisposição ao assassinato".
      Em 1936 o cérebro e o crânio de Giovanni Passannante foram mandados para o Museu Criminal onde acabaram em exposição juntos com alguns manuscritos de Passannante, como exemplo e testemunho daqueles estudos de Antropologia Criminal. A permanência dos restos na exposição museológica resultou numa série de protestos e manifestações. No dia 23 de Fevereiro de 1999 o ministro da Justiça italiano deliberou o traslado dos restos de Passannante de Roma para Sabóia de Lucania. No entanto, por morosidade institucional, a burocracia e a falta de vontade política, fez com que o traslado acontecesse apenas oito anos depois, em 2007.
      O sepultamento do crânio e cérebro de Giovanni Passannante estava previsto para o dia 11 de Maio de 2007 após uma cerimónia fúnebre que deveria durar 11 horas aproximadamente. O sepultamento, no entanto, aconteceu um dia antes do previamente estabelecido para evitar problemas de "ordem pública". Quase cem anos após a sua morte, até o sepultamento da cabeça gerou temor na “ordem pública”. 





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