sábado, 23 de outubro de 2010

Ações em França

      A juventude francesa, que está sob repressão policial constante, expressa agora a sua raiva contra o sistema e especialmente contra a polícia. Houve alguns confrontos muito duros contra os agentes antidistúrbios em diversas cidades por toda a França e, especialmente, nos subúrbios de Paris.

      Num primeiro momento, o governo criticou os jovens por serem manipulados e disseram que o lugar deles era na sala de aula, não na rua. Mas como o governo aprovou uma lei há alguns anos na qual estabeleceu que os adolescentes podiam ser penalmente responsáveis pelos seus atos, a juventude respondeu que se eles tinham idade suficiente para ir para a cadeia com 13 anos, também podiam discutir política e manifestar-se nas ruas.
      Agora o governo está tentando incutir o medo dos "jovens delinquentes" que participam do movimento apenas para quebrar tudo e pela violência. Mas, na realidade, esses argumentos não funcionam muito bem (até agora) e as pessoas continuam apoiando o movimento.
      Os trabalhadores, em determinados setores estratégicos, como transportes, portos e transportes de combustível, essencialmente, mantém a sua greve e até mesmo aumentaram o seu nível de luta.
      Pelo menos dois terços dos depósitos de combustíveis foram deixados vazios (em parte pelo bloqueio, em parte porque as pessoas estavam com medo da escassez e correram para as bombas de gasolina... este sentimento irracional de pânico foi uma grande ajuda para os grevistas pela confusão que foi criada).
      A rede de abastecimento esteve prestes a entrar em colapso, o que levaria a um colapso total da economia, pelo que o próprio presidente decidiu enviar o exército e a polícia para interromper o bloqueio. Os trabalhadores decidiram evitar o confronto e continuar a luta por outros meios.
      Além disso, vemos o início da auto-organização em algumas áreas e cidades. Mesmo que isso ainda não tenha um caráter massivo pode ter um impacto significativo no movimento geral. Por exemplo, em Toulouse, o sindicato local da CNT-AIT, convocou assembleias populares. A razão destas assembleias populares foi para dar liberdade de expressão, para demonstrar que a política não é apenas para profissionais ou especialistas, para promover o pensamento crítico e a auto-organização.
      Durante as primeiras manifestações, estas assembleias reuniam apenas 50 pessoas, mas depois o número aumentou 10 vezes (300 no dia 2 de outubro, 500 no dia 12, entre 500 e 700 no dia 16).
      Essas assembleias populares foram organizadas com calma e determinação. Por exemplo, em 2 de outubro, quando a polícia exigiu que a assembleia fosse dissolvida, o público recusou-se e continuou reunido durante 3 horas ocupando o centro da cidade sem ser incomodado. Tudo pelo poder que dela emana. Isto resultou numa manifestação espontânea no centro da cidade.
      Este modelo organizacional está se expandindo; na Universidade de Mirail, cidades como Auch, Montauban, Figeac (onde existem outras secções da CNT-AIT) ou Poitiers (onde não há nenhuma).
      Sobre a repressão policial, em algumas cidades os antidistúrbios estão muito nervosos e agem com muita brutalidade. Na cidade de Caen dispararam à queima-roupa uma granada de gás lacrimogéneo no rosto de um manifestante. A lata de alumínio da granada incrustou-se no crânio, e teve a sorte de sobreviver. A CNT-AIT de Caen está em contacto com a família do manifestante.
      Em Montreuil, um subúrbio de Paris, um estudante foi atingido com um tiro de "flash" disparado pela polícia, o impacto na cara fez com que perdesse parte do rosto e pode perder um olho.
      Em muitas outras cidades, especialmente em cidades portuárias como St Nazaire, Le Havre, Boulogne foram registados fortes confrontos entre manifestantes e a polícia.
      Desde o início do conflito mais de 2000 pessoas foram detidas durante as diversas ações.
      Além dos embates mais espetaculares, muitas ações menores foram organizadas para tentar popularizar a ideia da greve geral. Por exemplo, em 13 de outubro a CNT-AIT participou num piquete em frente à fábrica da Peugeot em Aulnay para atrair outros trabalhadores para o movimento. Mas embora muitos trabalhadores simpatizem com a causa não se podem unir ao movimento devido às muitas dívidas que têm que pagar, dos empréstimos bancários de que se socorreram e não querem nem podem perder o seu salário. É por isso que se pensa noutro tipo de ações, como a sabotagem, interrompendo a produção, bloqueios económicos circulares, etc., por exemplo, na biblioteca da Universidade de Paris XIII, os trabalhadores estão em greve cada um em um dia diferente. Ao fazer isso, o sistema pára sem que os trabalhadores percam muito.
      Outras ações podem ser tomadas, por exemplo, camufladas, em Clermont Ferrand, a CNT-AIT local organizou durante a última manifestação um ato em solidariedade com os trabalhadores do Peru, em frente a uma loja da Zara.
      Hoje (sábado 23) começa uma semana de feriados nacionais, o governo espera que o movimento estudantil se esvazie e que o resto o siga.
      Veremos.


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