terça-feira, 14 de setembro de 2010

Quanto é 2.340 euros?

      Dois mil, trezentos e quarenta euros não é o valor de um vestido de altacostura; é o preço de uma vida humana.

      É o preço de uma vida humana?
      Sim!
      No passado dia 21 de Fevereiro, pela terceira vez em menos de um ano, um incêndio "acidental" eclodiu na empresa têxtil “Garib e Garib”, em Dhakka, no Bangladesh.
      Já em Agosto de 2009 duas pessoas tinham morrido nesta mesma empresa devido a um primeiro incêndio. Em Fevereiro de 2010, foram 50 os trabalhadores que ficaram gravemente feridos e 21 os que morreram noutro incêndio.
      A ocidental multinacional “H&M” é a principal cliente da “Garib e Garib” e, perante a indignação internacional suscitada por este drama, sentiu-se obrigada a fazer um gesto e, pomposamente, a “H&M” atribuiu às famílias das vítimas 2340 euros de "compensações". Eis o preço da vida de um trabalhador para a “H&M”.
      Este género de "acidente" é frequente no Bangladesh. São incontáveis os mortos carbonizados nas suas fábricas, porque os patrões encerram os trabalhadores nas oficinas. Estes incêndios têm frequentemente por origem uma instalação elétrica defeituosa, sem manutenção, e uma ausência de medidas de segurança elementar nos locais de trabalho.
      Para quê investir milhões em segurança com um tão baixo preço da vida humana? Sobretudo quando se acaba de saber que a “H&M” pagou tão-só 60 (Sessenta) euros de impostos sobre as suas sociedades em 2008, num país onde se abastece em grande escala.
      Os têxteis representam 80% das exportações anuais do Bangladesh e as suas fábricas empregam 40% da mão-de-obra industrial do país, na maior parte feminina.
      O salário médio é de cerca de 20 (Vinte) euros por mês.
      Em Abril, o governo comprometeu-se a aumentar os salários mas um grupo de proprietários de 4500 fábricas conseguiu fazer limitar os salários a 23 euros.
      Os operários do Bangladesh começam a estar fartos de ser os "fusíveis" da indústria têxtil e nos últimos meses as revoltas vêm-se multiplicando. Violentos movimentos de protesto, envolvendo dezenas de milhares de operários dos têxteis e levaram ao encerramento de 700 fábricas que fornecem as maiores marcas ocidentais de vestuário.
      No passado dia 19 de Junho, cerca de 50.000 trabalhadores dos têxteis que se manifestavam pelo aumento dos salários saquearam várias fábricas na zona industrial a norte da capital Dhakka e bloquearam estradas. A polícia reagiu, ferindo mais de 100 operários mas, curiosamente, os nossos media não tocaram no assunto, muito preocupados que estavam com os assuntos milionários do Mundial de Futebol.


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