sexta-feira, 31 de agosto de 2012

(Re)Encontro Internacional Anarquista


      Decorreu entre os dias 8 e 12 deste mês de agosto de 2012, conforme aqui já anunciado (no artigo de 11 de abril de 2012), o Reencontro Internacional do Anarquismo, na localidade Suiça de Saint-Imier.
      Feito o balanço daqueles cinco dias, pela organização Suiça O.S.L. (Organização Socialista Libertária), a seguir, se reproduz o texto publicado.
      «Após cinco dias de debates e de trocas para relembrar a nossa história, preparar os nossos combates futuros e converter os nossos esforços, reafirmamos o valor das posições e resoluções do congresso de Saint-Imier que funde o anarquismo social, permitindo futuros desenvolvimentos, e assegurando as bases de uma unidade de ação sincera entre todos os setores combativos e antiburocráticos da luta social.
      O congresso de Saint-Imier esteve aberto à diversidade e à pluralidade de pensamentos e práticas do movimento trabalhista antiburocrático e federalista, construindo o movimento libertário crescente.
      Foi recusado o partidarismo, hierarquizado, institucional e eleitoralista, defendido pelas correntes do socialismo autoritário. Foi combatida a conceção estatal de mudança que objetivou e objetiva hoje a conquista, a ocupação do Estado como forma de transformação social.
      O congresso de 1872 igualmente proclamou a sua vontade de combater todo tipo de organização hierarquizada, burocrática, constituída para exercer o comando e suscitar a delegação, a submissão e a obediência. Por isso, o congresso se opôs à federação das organizações trabalhadoras e das lutas, bem como a livre iniciativa, o projeto socialista de gestão direta e de mudança social; como propôs a maior parte das formas de organização de conceções não hierárquicas no movimento trabalhista, nas suas lutas e no projeto socialista libertário.
      Numerosas lutas, ações militantes e tentativas revolucionárias precederam e acompanharam o congresso internacional de 1872. O anarquismo tem lugar nessa história. Ele constitui hoje um movimento político que reagrupa experiências numerosas e aquisições comuns a um grande número de coletivos e organizações específicas, sindicais, de luta social e populares. O anarquismo traz a sua contribuição para a construção de um movimento coerente, capaz de uma intervenção eficaz e forte, que busca a coerência entre os meios e os fins a fim de mudar radicalmente a sociedade.
      Para nós, o anarquismo alimenta as lutas sociais e se alimenta destas mesmas lutas. Ele traz a sua contribuição ao movimento popular de auto-emancipação e de auto-organização. Cada resistência, cada luta, cada dissidência, cada alternativa remete à questão da liberdade e da igualdade. Cada combate social abre possibilidades que nos devem acompanhar à liberação social e política.
      A transformação social radical que reivindicamos e nos prepara para a nossa ação só pode resultar da vontade, da auto-determinação e compromisso consciente das classes populares, dos indivíduos, homens e mulheres que estão hoje dominados por este sistema injusto.
      Estamos numa verdadeira guerra social e económica, com diferentes intensidades, mas cada vez mais extensa, mais viva, mais brutal.
      Uma situação de insegurança social e de precariedade se generaliza, saqueia o bem comum, destruindo os serviços públicos, procurando instaurar o medo, a resignação e a submissão, impondo o capitalismo por toda parte. Esta política é conduzida tanto pelos capitalistas, quer pelos governos a seu soldo. Estes últimos tentam impor uma colonização total nas nossas condições de existência, mobilizando as nossas atividades ao serviço da reprodução do sistema.
      Paralelamente, existe um ressurgimento de antigas dominações: patriarcado, discriminação sexual e de género, xenofobia, racismo, servidão, exploração. Estas desigualdades renovadas servem para reforçar a valorização capitalista e garantir a reprodução geral do sistema.
      O anarquismo denuncia um só sistema de enquadramento e de dominação que obedece cada dia mais a uma lógica oligárquica. O anarquismo não subavalia de maneira nenhuma os espaços de liberdades individuais e civis, os serviços públicos e de bem comum e as políticas de redistribuição de riqueza, transferida para a solidariedade social, que permanece. Os anarquistas acreditam defender e alargar estas aquisições.
      Todos estes avanços foram conquistados no passado por lutas sociais. A esperança de mudar a sociedade graças à conquista do poder do Estado é largamente desqualificada. A conquista do poder institucional, a integração no poder estatal e a ação governamental, a participação nas eleições, não nos trazem nada de melhorias nas condições de vida comuns, dos direitos políticos e sociais. Pelo contrário, é recusando a delegação do Estado e a definição e o governo do bem comum que a população pode defender eficazmente os seus interesses e as suas aspirações. É agindo pelas mesmas, multiplicando e reforçando as suas organizações, tomando parte das riquezas sociais e dos meios de produção e de distribuição, impondo as suas necessidades, criando as suas próprias formas de organização e lutando sob o campo cultural que as classes populares podem se opor a barbárie do sistema, ganhar a sua emancipação e melhorar as suas condições de existência.
      Os partidos de esquerda já não constituem forças de progresso e de justiça social. Já não defendem as aquisições anteriores. Pelo contrário, eles precipitam a ruína e o desmantelamento das nossas conquistas sociais.
      A burocratização do movimento trabalhista e social, a política de delegação orientada à integração em instituições estatais, a recusa da luta e a imposição da paz social a todo preço, a submissão aos objetivos, as estratégias, aos valores capitalistas de globalização levam-nos a uma regressão social, política e ecológica de grande envergadura.
      Por isso, a eficácia da luta e da construção de alternativas concretas estão ligadas à ação direta popular, porque ela se apoia na convicção de que os grupos sociais devem se emancipar e agir sob uma base federalista e solidária.
      Nesta sociedade de classes, não existe nem consenso nem compromisso possível que satisfaçam o interesse comum. Reivindicamos claramente o não-senso com os poderes. A ação direta é encarregada da proposição plural da transformação social. Ela se inclina a uma pluralidade de formas organizacionais e de ações capazes de federar as resistências populares.
      Os anarquistas agem no seio dos movimentos de luta a fim de garantir a sua autonomia, de os federar numa perspectiva revolucionária e libertária, para construir o poder popular, a caminho de uma emancipação política, económica e social.
      O nosso projeto é o comunismo libertário. Reivindicamos a convergência das tradições e da experiência acumuladas nesse sentido: comunalismo livre, auto-governo municipal, autogestão, conselhos de trabalhadores e populares, sindicalismo de base, de combate e de gestão direta; livre acordo para a criação; a experimentação, a associação, o federalismo e as alternativas e atos. Isso significa a construção desde a base de um poder popular direto, não estatal.
      Queremos a rutura com o capitalismo. Lutamos pela autogestão numa sociedade futura fundada sob a liberdade e a igualdade. Este objetivo implica formas de organização diversas sob todos os domínios da vida social e económica. Uma tal orientação chama uma sociedade auto-instituida, um desenvolvimento social e económico escolhido livremente.
      A socialização das forças de produção e de troca, a autogestão social constituindo a forma principal. Um acesso igualitário aos recursos disponíveis e renováveis, e aos meios da sociedade vem apoiar as possibilidades de livre associação, de experimentação económica e de exploração da organização das condições de existência.
      A autogestão é fundada sob a livre organização dos trabalhadores, dos consumidores e são membros da sociedade após a abolição do Estado, num quadro de auto instituição politica, de democracia direta e de direito das minorias.
      O anarquismo social, o anarco-sindicalismo e o sindicalismo revolucionário, bem como o comunismo libertário defendem um projeto político fundado sob uma coerência entre fins e meios, entre ações quotidianas e lutas revolucionárias, entre movimento crescente de auto emancipação e transformação social radical.
      Desde 1872 o nosso movimento contribui com tantos outros homens e mulheres livres para abrir este caminho. O nosso compromisso hoje é o de seguir com esse projeto, levando-o à luta direta dos povos.
      Saint Imier, 12 de agosto de 2012.»
      Mais info em: http://www.anarchisme2012.ch/
      Ligação permanente na coluna dos Sítios a Visitar sob a designação de “Encontro Internacional Ago2012”.

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