sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A Expropriação de Alimentos


      Esta semana, os membros do Sindicato Andaluz de Trabalhadores (SAT) realizaram expropriações de alimentos numa rede de supermercados da Andaluzia (Espanha) com o objetivo de obter alimentos para uma cantina social.
      A ação foi levada a cabo nos supermercados "Mercadona", na localidade de Écija (Sevilha) e de Arcos de la Frontera (Cádiz). Esta ação foi liderada por Juan Manuel Sánchez Gordillo, de 33 anos, eleito presidente do município de Marinaleda e deputado da IU (Esquerda Unida) no Parlamento da Andaluzia.
      Cerca de 200 sindicalistas entraram no supermercado, encheram 10 carrinhos de compras com bens de primeira necessidade e forçaram a sua saída sem passar pelas caixas. Houve um momento de tensão quando alguns funcionários tentaram impedir que o grupo levasse os produtos e, supostamente, uma funcionária terá sido agredida. Os ânimos acalmaram-se com a chegada da polícia e o grupo pôde sair do estabelecimento com todos os produtos sem pagar nada.
      Juan Gordillo diz que “Alguém tem de fazer alguma coisa para as famílias continuarem a comer."
      Gordillo garante ainda que vão fazer mais ações e afirma que não pretende fugir, apesar de se constar que o ministro da Administração Interna, já dera ordem de prisão para Gordillo e os restantes autores da ação, tendo sido, para já, dois deles detidos e depois postos em liberdade.
      Gordillo explica ainda que organizou a ação de modo a que as autoridades não conseguissem impedi-la. "Fiz uma manobra de distração para a polícia me seguir, assim os meus colegas entraram no supermercado e tiraram os carros com os alimentos."
      Gordillo explica aos mass media que não se trata de um assalto mas sim de uma "expropriação forçada" de alimentos de primeira necessidade, como: azeite, açúcar, arroz, massa, leite, bolachas e legumes.
      Juan Manuel Sánchez Gordillo é presidente do município de Marinaleda desde 1979, tendo já liderado revoltas de ocupação de terras. É deputado no Parlamento da Andaluzia desde 2008, representando a província de Sevilha.
      A CNT de Andaluzia exprimia assim o apoio à expropriação, segue síntese adaptada e traduzida:
      «Esta ação tem um triplo valor: em primeiro lugar quebrou o discurso hegemónico de tratar de justificar que sejam os pobres e os trabalhadores a pagar os destroços da crise. Depois de privatizar tudo (educação, saúde, água, etc.), depois de destruir, de uma vez só, os mais elementares direitos laborais, depois de subir os impostos, etc. Parece que hoje os dirigentes do Banco Central Europeu têm a receita para que o sul da Europa saia da crise: baixar os salários e cortar ainda mais os direitos laborais e sociais. Ou seja, mais do mesmo daquilo que até aqui nos trouxe.
      A ação do SAT fez emergir na vida pública que os trabalhadores não querem pagar a crise que não criaram e que existem múltiplas alternativas ao que hoje ocorre, designadamente, apostar por uma redistribuição dos recursos mais equitativa.
      Em segundo lugar, esta ação, veio mostrar a irracionalidade de um sistema económico em que as grandes empresas acumulam alimentos e até os destroem, enquanto a poucos metros existem centenas e milhares de pessoas a passar por necessidades. O mercado é, claramente, uma instituição incompetente para controlar os nossos recursos. É necessário construir alternativas baseadas no cooperativismo, algo que no SAT já fazem há muitos anos e hoje se pode comprovar nas experiências de Somonte e das Turquillas.
       Em terceiro lugar, satisfaz-nos ver que, frente aos pactos e subsídios milionários dos sindicatos oficiais CCOO e UGT, existam sindicatos combativos que apostem pela desobediência. Pode ser que a ação do SAT seja ilegal mas essa ilegalidade não foi o povo que a concebeu. A lei representa os interesses e os valores dos poderosos e uma mudança social só será possível se se estender a desobediência e a solidariedade com os desobedientes.»
      Há cerca de 15 dias, Sánchez Gordillo e outros sindicalistas do SAT ocuparam e mantêm a ocupação desde então de uma propriedade do Ministério da Defesa espanhol na localidade de Écija. Reclamam que o Exército dê as terras aos agricultores que estão passando fome.
      Em Espanha quase 25% da população está desempregada e o país atravessa uma profunda depressão económica.
      Mais info em:



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