sábado, 21 de abril de 2012

A Injustiça dos Símios

      A revolta perante uma desigualdade é sentida por alguns primatas tal e qual se passa connosco, parentes próximos na longa e complexa árvore genealógica da evolução.
      A descoberta foi feita por Frans de Waal, famoso primatólogo holandês que dirige o Laboratório Yerkes de Investigação de Primatas de Atlanta (EUA). Quando expostos a uma situação evidente de injustiça, os Cebus, macacos que povoam a América Central e a América do Sul, deixam de realizar a atividade em que estão envolvidos.
      As experiências neste sentido são várias. Numa delas, de Waal reuniu um grupo de Cebus e ensinou-lhes uma tarefa simples: os macacos deviam recolher pedras e pô-las nas mãos dos investigadores que os acompanhavam em laboratório. A tarefa dos símios era recompensada com um pepino. O prémio era para todos, e o seu tamanho o mesmo, sem diferenças assinaláveis.
      Enquanto o sistema durou – e aqui vem a lição para os congéneres humanos – a “produtividade” foi garantida, com 90% destes “operários” a realizarem as tarefas em paz social.
      O problema começou quando se decidiu diferenciar os salários para a mesma tarefa. Em vez do habitual pepino, a equipa de Waal decidiu premiar alguns dos macacos com um cacho de uvas. Entre os Cebus, isto equivale a um aumento e a razão é óbvia: as uvas são doces, os pepinos quase insípidos.
      O resultado da medida foi óbvio: os “conflitos sociais” surgiram, com a desmotivação e o abandono gradual da tarefa daqueles que continuaram a ser agraciados com pepinos. Pior: esse abandono correspondia à união dos que tinham ficado de fora do aumento salarial.
      Onde é que já vimos isto? Ao longo de toda a história humana e hoje um pouco por todo o Mundo. Os cidadãos sentem-se indignados com os privilégios de uma elite, sentindo o que estes macacos sentem perante uma discriminação injusta. A injustiça nada tem a ver com fórmulas económico-governativas, instigação sindical, etc. Injustiça é injustiça, sem mais e tão simples, e isto parece estar inscrito nas profundezas do nosso mais arcaico ADN.

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