segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Edward Carpenter

      Num dia como o de hoje (29 de agosto) do ano de 1844 nascia Edward Carpenter, poeta inglês, socialista libertário, antologista e um dos primeiros ativistas políticos homossexuais.
      Foi figura destacada no Reino Unido nos finais do século XIX. Poeta e escritor, foi amigo de Walt Whitman e Rabindranath Tagore, tendo-se correspondido com muitas personalidades famosas como Annie Besant, Isadora Duncan, Havelock Ellis, Roger Fry, Mahatma Gandhi, James Keir Hardie, J K Kinney, Jack London, George Merrill, Edmund Dene Morel, William Morris, Edward R. Pease, John Ruskin e Olive Schreiner.
      Como filósofo foi especialmente conhecido pela publicação de “Civilisation, its Cause and Cure” (Civilização, a sua Causa e Cura), em que defende que a civilização é uma forma de doença que as sociedades humanas atravessam. As civilizações, segundo Carpenter, raramente sobrevivem mais do que mil anos, antes de se desmoronarem, e nenhuma sociedade conseguiu ultrapassar com sucesso uma civilização. A "cura" é uma aproximação mais forte à terra e um maior desenvolvimento da nossa natureza interna.
      Embora Carpenter se tenha inspirado na sua experiência com o misticismo hindu, e se refira a um "socialismo mítico", o seu pensamento está alinhado com o de diversos escritores nos campos da psicologia e sociologia do princípio do século XX, como Boris Sidis, Sigmund Freud e Wilfred Trotter, que reconheciam que a sociedade coloca cada vez mais pressão nos indíviduos o que resulta em doenças mentais e físicas como neurose e neurastenia.
      Convicto defensor da liberdade sexual, Carpenter vivia numa comunidade homossexual perto de Sheffield e teve profunda influência sobre D. H. Lawrence e E. M. Forster.
      Progressivamente atraído por uma vida mais próxima da natureza. Carpenter foi viver para uma quinta em Bradway com o agricultor Albert Fearnehough e a sua família. Foi nessa altura que Carpenter começou a conceber as suas ideias políticas socialistas. Influenciado por John Ruskin, imaginou um futuro de comunismo primitivo, rejeitando rotundamente a revolução industrial da era vitoriana. Na sua comunidade utópica haveria "a ajuda mútua e a combinação de vontades tornar-se-ão espontâneas e instintivas".
      Carpenter escreveu, numa espécie de cabana de madeira da sua horta, os poemas que constituiriam o seu livro de poesia, “Towards Democracy” (A Caminho da Democracia), que foi fortemente influenciado pela espiritualidade oriental e pela leitura aprofundada dos poemas de Withman.
      Os últimos vinte anos da vida de Carpenter foram preenchidos por um radicalismo político constante, marcado pelo seu envolvimento persistente em temas progressistas, incluindo a proteção ambiental, os direitos dos animais, a liberdade sexual, movimento feminista e o vegetarianismo. Escreveu sobre o horror do sistema capitalista, contra a aristocracia rural e sobre a sua visão do socialismo – uma nova era da democracia, camaradagem, cooperação e liberdade sexual.
      Apoiou Fred Charles, do grupo de Anarquistas de Walsall, em 1892. No ano seguinte tornou-se membro fundador do “Independent Labour Party” (Partido Trabalhista Independente) em conjunto com, entre outros, George Bernard Shaw.
      Um verdadeiro radical da sua época, muito daquilo em que Carpenter acreditava foi rejeitado e mesmo ridicularizado pela Esquerda. Prosseguiu o seu trabalho no início do século XX, produzindo textos sobre a "Homogenic question" (questão homogénica). A publicação em 1902 da sua inovadora antologia de poesia, “Ioläus: An Anthology of Friendship” (Iolaus: uma Antologia da Amizade), foi um enorme sucesso subterrâneo, promovendo o avanço do conhecimento sobre a cultura homoerótica. Em Abril de 1914, Carpenter e o seu amigo Laurence Houseman fundaram a “British Society for the Study of Sex Psychology” (Sociedade Britânica para o Estudo da Psicologia Sexual). De entre os tópicos apresentados em conferências e publicações da Sociedade, destacam-se: a promoção do estudo científico do sexo; a promoção de uma atitude mais racional para com o estudo da conduta sexual e dos problemas e questões relacionados com a psicologia sexual, de um ponto de vista médico, jurídico e sociológico, com o controlo de natalidade, com o aborto, esterilização e doenças venéreas, e com todos os aspectos da prostituição.
      A curiosidade de Carpenter não se limitava ao que os seus detratores chamavam temas políticos menores, mas incluía importantes questões internacionais da época. O seu pacifismo de esquerda tornou-o num dos oponentes ruidosos da Segunda Guerra dos Bôeres e depois da Primeira Guerra Mundial. Em 1919, publicou “The Healing of Nations and the Hidden Sources of Their Strife” (A Cura das Nações e as Fontes Secretas dos seus Conflitos), onde argumentava apaixonadamente que a fonte da guerra e do descontentamento nas sociedades ocidentais era a existência de classes e a desigualdade social. Chamou a esta injustiça social "doença de classe", onde cada classe apenas atua no seu próprio interesse. Para Carpenter, uma reestruturação social e económica radical era indispensável para acabar com a fragmentação social. Nos seus anos finais comentou que:
      «Apenas posso antever uma saída para o lodaçal em que estamos atolados. O atual sistema comercial terá que desaparecer, e deveremos regressar aos sistemas mais simples de cooperação de épocas passadas. Estou convencido que teremos que regressar a essa condição, ou a outra similar, se queremos que a nossa sociedade sobreviva. Afirmo isto após uma longa e detalhada observação da vida nas suas diferentes fases. Foi isto que os mineiros, de forma subconsciente, já perceberam, pois retiveram nas suas mentes muito da primitiva mentalidade das eras pré-civilizacionais."
      Mais info em: http://www.edwardcarpenter.net/

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