segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Unaustralians

      No passado dia 19 de outubro um grupo atacou e destruiu o gabinete da Ministra de Assuntos Indígenas de Austrália, em Melbourne, com o lançamento de bombas de tinta.

      Aquele coletivo veio a público com o comunicado que a seguir se reproduz e cujo conteúdo é do interesse geral, muito para além do interesse particular concreto dos povos indígenas.
      «Atacamos o gabinete de Jenny Macklin, membro do Partido Trabalhista Australiano e Ministra de Assuntos Indígenas. Fizemos isso porque o governo australiano é um governo de ocupação e colonização contínua dos povos indígenas deste país. As nossas ações são ações de solidariedade com os povos indígenas que foram invadidos, cujas terras foram roubadas, que foram expulsos à força das suas terras, das suas famílias, cujas culturas e línguas sofreram danos irreversíveis e ainda estão sofrendo as contínuas ondas de ataques por parte do nosso governo colonial, neste mesmo gabinete de Assuntos Indígenas.
      Também realizamos este ataque porque, como cidadãos não-indígenas deste país, nos colocamos numa situação em que beneficiamos materialmente a colonização dos povos indígenas. Aprendemos a negar a realidade das origens da nossa riqueza material, como o “país afortunado”. O mito da sorte oculta a realidade da guerra e de ocupação, com base nas nossas vidas. Nascemos numa sociedade que nos diz que esta atividade colonial é uma coisa boa, que é “para nós”, que é “para eles”. Que a cultura materialista e capitalista é “boa” e “benéfica”.
      Aprendemos que todos merecem o “grande sonho australiano”, construído sobre as ruínas da guerra colonial. Mas o sonho é um mito. Agimos porque queremos romper a monotonia da sua existência. Não acreditamos que a comodidade material é a única qualidade que faz a vida “boa”. Agimos porque não acreditamos na superioridade cultural do capitalismo e rejeitamos a lógica missionária de assimilação dos povos indígenas para lhes dar uma vida “melhor”. Não acreditamos que uma vida baseada exclusivamente no consumo, vazia de verdadeira emoção, de comunidade, de individualidade e de alegria é a “melhor” forma de vida. Esta sociedade é tediosa, é vazia e insatisfatória. Está construída sobre uma rede de mentiras, dor e sofrimento, perseguida por memórias quase apagadas de formas de vida que perdemos.
      Rejeitamos essa cultura de negação. Rejeitamos esta sociedade que nos diz que devemos aceitar o papel que nos foi dado, seja de “oprimidos” ou “opressores”, “colonizados” ou “colonizadores”. Estamos contra a colonização. Estamos contra a assimilação do mundo na cultura capitalista da supremacia branca.
      Todo o mundo está resistindo a este sistema, todos os dias e em muitas formas diferentes, desde os aparentemente insignificantes, como cada vez que alguém rouba algo da loja “Woolworths”, sempre que não compra um bilhete no comboio, cada vez que desliga a televisão porque está farto de tanta merda sem sentido, até às greves comunitárias e lutas urbanas. Esta é uma forma que optamos não apenas para resistir, mas para intensificar a nossa resistência e as nossas vidas. Através desta ação estamos recuperando a nossa dignidade e declaramos que nos recusamos a ser cidadãos “obedientes” da Austrália colonial.»
      O comunicado está assinado pelos “Unaustralians”.


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